quinta-feira, 18 de julho de 2013

Uma tipologia das cidades por Max Weber


      Com sua peculiar sistematicidade, Max Weber elabora, no âmbito da sua sociologia da dominação, uma tipologia das cidades, procurando mostrar como o desenvolvimento urbano no Ocidente moderno está intimamente vinculado à emergência e consolidação do capitalismo e ocorre de forma distinta do que aconteceu com as cidades orientais.
          A análise weberiana inicia com um esclarecimento acerca do conceito de cidade e com uma categorização ideal-típica por meio de uma classificação funcional.  Nesse sentido, cada cidade teria uma função predominante que se sobrepõe a outras,  conferindo-lhe uma identidade específica. Sobre o conceito, Weber parte da definição básica de cidade como um assentamento fechado com casas próximas umas das outras, cujos fundamentos principais são a existência de uma sede senhorial-territorial como centro e o  comércio constante de bens e serviços entre seus habitantes, ou seja, a existência de um mercado.
       Na tipologia de Weber, destacam-se  a cidade principesca, cuja função primordial é a de ser uma localidade administrativa, sede do governo, como são, por exemplo, as capitais federais;  a cidade de consumidores, que não  possui uma base produtiva, como, por exemplo, aquelas localidades cuja parcela significativa de moradores ainda não ingressou no mundo do trabalho, como estudantes, ou que já saiu dele, como aposentados e pensionistas;  a cidade de produtores, caracterizada por suas indústrias, fábricas, manufaturas, ou seja,  um centro produtor de diversos tipos de mercadorias; e, por fim,   a cidade mercantil, cuja função predominante é a negociação constante de mercadorias, seja vendendo os produtos locais para estrangeiros ou vendendo produtos estrangeiros no comércio local. Como a classificação weberiana parte da formulação de tipos ideais, o autor explica que,  empiricamente,  as cidades  acumulam  funções distintas.
      Segundo o autor, a particularidade do processo de formação das cidades ocidentais na modernidade deve-se ao fato de que estas foram surgindo como resultado de uma postura subversiva de uma classe social que estava se formando, a burguesia. Assim, no princípio, trata-se de um modo de organização social transgressor, portanto, não-legítimo, adquirindo legitimidade apenas posteriormente com a aceitação tácita da nova ordem.  Além da não-legimitidade inicial, estas cidades se constituem, conforme Weber, com uma organização político-administrativa autônoma que possui sistemas legal e  tributário próprios.  Ademais, sua força econômica é  urbana, com mercados especializados, ou seja, não tem mais como cerne a produção agrícola, embora esta ainda fosse importante.
       Na concepção processual de Weber, a gênese da moderna cidade ocidental encontra-se na cidade medieval. A lei da propriedade de terra, que permite a negociação do solo,  base do feudalismo, forneceu o precedente  necessário para a autonomia territorial das cidades. Outro fator,  não menos importante,  foi o surgimento de um grupo de  indivíduos economicamente independentes, a pequena burguesia. Com o tempo esse novo grupo se fortalece a ponto de conseguir usurpar o poder dos senhores feudais.
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WEBER, Max. A dominação não-legítima (Tipologia das cidades). In: Economia e Sociedade. Fundamentos da sociologia compreensiva. Vol. II. Brasília: Ed Unb, 2004.