sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A atual onda de protestos como consequência previsível da sociedade de risco



É provável que só tenhamos uma ideia mais precisa acerca do efervescente  momento histórico que estamos vivendo daqui a  alguns anos. No entanto, não é necessário esperar para saber  que não passaremos incólumes por ele. E é bom que não passemos,  afinal, as pessoas gritam por mudanças, exigem uma nova ordem, na qual, o futuro não se apresente como uma ameaça. Mais do que qualquer coisa, o que  desejam, especialmente os jovens,  são boas perspectivas, fazer planos e acreditar na possibilidade de sua concretização.
 Desse modo,  a onda de protestos que ocorre no mundo é uma reação, relativamente esperada,  diante de uma sociedade global mergulhada na incerteza.  Não por acaso, já que as crises das quais somos vítimas, crise do capitalismo, crise política, crise ambiental e outras,  são conseqüências  indesejadas, mas não imprevisíveis das escolhas que governos e indivíduos compartilharam no decorrer do processo de modernização. Poderíamos simplesmente culpar os líderes mundiais, e talvez eles sejam mesmo os principais responsáveis, todavia,  sem o nosso consentimento e, muitas vezes, apoio efetivo,  eles não conseguiriam  transformar a humanidade em  refém dos riscos que foram produzidos em nome do  progresso.  Como afirma Ulrich Beck (1997), nós criamos a sociedade de risco.
O sociólogo explica que o processo de modernização pode ser percebido em duas fases. A primeira seria o estágio do desenvolvimento industrial e caracteriza-se  pela prevalência da perspectiva dos benefícios do progresso. Os males eram percebidos  como  residuais e, por conseguinte,  menosprezados. Todavia, na análise de Beck, os resultados indesejados do desenvolvimento traçaram o contorno da segunda fase da modernização. Assim, ele afirma que,

[...] uma situação completamente diferente surge quando os perigos da sociedade industrial começam a dominar os debates e conflitos públicos, tanto políticos como privados. Nesse caso, as instituições da sociedade industrial tornam-se os produtores e legitimadores das ameaças que não conseguem controlar (1997:15-16).


A insegurança,  com a qual convivemos há algum tempo, cresce. As ameaças, cada vez mais, tornam-se reais. Poderíamos argumentar que tudo que ocorre sempre existiu, fome, guerras, tragédias ambientais. É verdade, mas o que diferencia a atual situação é que há uma tendência mais geral de empobrecimento. As vítimas não são mais apenas os países subdesenvolvidos e emergentes. Os países ricos, que sempre se pautaram pela esperança tola no crescimento infinito do mercado, percebem agora que, apesar dos indivíduos serem continuamente estimulados a consumir, a capacidade de consumo, mesmo por meio de endividamento, é menor do que a ganância capitalista que produz mais e mais.
Ainda é cedo para dizer que está se cumprindo o prognóstico marxiano de colapso do capitalismo. Afinal,  foram muitas crises e o sistema sempre mostrou uma capacidade impressionante de recuperação e re-ordenamento,  sem, contudo,  mudar suas bases estruturais. Entretanto, a tomada de consciência da população mundial, evidenciada nos protestos, sinaliza que ela não está mais disposta a aceitar passivamente  a tirania que pode se manifestar, explicitamente, em governos totalitaristas  ou,  de forma dissimulada,    por meio de  sistemas sociais injustos.  
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BECK,  Ulrich. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da  modernização reflexiva In:
GIDDENS, A.; BECK, U.; LASH, S.  Modernização Reflexiva. Tradução de Magda Lopes. 2
reimpressão. São Paulo: Editora Unesp, 1997. p. 11-71.