sábado, 17 de julho de 2010

Sobre a etnometodologia e seus principais conceitos

Imagem: http://eucomaarte.blogspot.com.br/

A etnometodologia surgiu na Califórnia nos anos 60, ganhou terreno nos Estados Unidos e chegou até a Europa. Sua importância  epistemológica deve-se ao fato de ter promovido uma ruptura radical com os modos de pensamento da  sociologia tradicional. O eixo da pesquisa etnometodológica é a idéia de Shültz, segundo a qual,  todos são sociólogos em estado prático. Nesse sentido, as pessoas descrevem sua realidade.
            Harold Garfinkel é apontado como o grande fundador da etonometodologia. Seu trabalho recebeu influência de Tallcot Parsons e sua teoria da ação. Contudo, a invés de priorizar as regras e os aspectos cullturais determinando a ação, propõe que a relação entre ator e situação deriva de processos de interpretação. Assim vemos a sociologia passando de um paradigma normativo para um paradigma interpretativo.
            O interacionismo simbólico é também uma das fontes da etonometodologia, em particular com sua teoria da atribuição de rótulos, labeling theory. Ao tratar da questão dos desvios, os etonometólogos recorrem a essa teoria para considerarem os efeitos de uma construção social. Ao serem  rotulados de desviantes, tais pessoas assumem esse rótulo e desse modo justificam comportamentos posteriores à atribuição dos rótulos.
             Os conceitos chaves da abordagem etnometodológica são: prática, realização, indicialidade,  reflexividade, accountability e a  noção de membro. Garfinkel explica que seus estudos abordam atividades práticas, circunstâncias práticas e o raciocínio sociológico prático. Assim, a etnometodologia é a pesquisa empírica dos métodos que os indivíduos lançam mão para atribuir sentido e ao mesmo tempo realizar as suas ações cotidianas.As crenças e os comportamentos de senso comum são interpretados como constituintes necessários de todo comportamento socialmente organizado.  No que se refere ao conceito de realização, o que a sociologia tradicional chama de “modelos” é considerado pela etnometodogia como “as realizações contínuas dos atores”.  Os seus defensores  argumentam que, mesmo quando os fatos se contradizem, os sociólogos arrumam um jeito para encontrar explicações que conformem a suas hipóteses preestabelecidas, especialmente,   a prerrogativa de  “constância do objeto”. Para evitar tal artimanha teórica, os etnometodólogos privilegiam a noção de processo, que busca no  dinamismo  do mundo social suas evidências, em detrimento da elaboração de hipóteses que pressupõe um conhecimento prévio que não considera as contínuas transformações da realidade a ser pesquisada.
A indicialidade é outro conceito relevante e parte da premissa de que é através da linguagem que a vida social é constituída. Nas relações do dia a dia, as pessoas conversam, indagam, respondem, descrevem, ensinam, trapaceiam. Pode-se definir como indicialidade todas as determinações que se ligam a uma palavra, a uma situação. Esse conceito é um termo técnico, adaptado da lingüística. De acordo com essa proposição da etnometodologia, as palavras só ganham sentido completo no seu contexto de produção, quando são “indexadas” a uma situação de intercâmbio lingüístico. Mas a indexação não esgota a integralidade do seu sentido.
            A etnometodologia também utiliza o conceito de reflexividade em suas análises. Tal conceito designa as práticas que, concomitantemente, descrevem e constituem o quadro social. É, segundo Coulon, a propriedade das atividades que pressupõe ao mesmo tempo que torna observável a mesma coisa. A Accountability  possui duas características importantes: reflexividade e racionalidade. Os etnometodólogos procuram definir e teorizar a accountability, propondo que os accounts são informantes ou estruturantes da situação de enunciação. Afirmar que o mundo social é accountable é dizer que ele é algo disponível, isto é, descritível, inteligível, relatável, analisável.
    A noção de membro é outra terminologia chave da abordagem etnometodológica. Tornar-se membro significa filiar-se a um grupo, a uma instituição, o que exige uma conformidade com a linguagem institucional comum. Essa filiação repousa sobre a singularidade de cada um. Uma vez ligados à coletividade, os membros não têm necessidade de se interrogar sobre o que fazem. Conhecem as regras implícitas de seus comportamentos e aceitam as rotinas inscritas nas práticas sociais. Dessa forma, o membro não é apenas uma pessoa que respira e pensa, mas alguém dotado de um conjunto de modos de agir, métodos, de atividades, de savoir-faire, que a capacita para criar dispositivos de adaptação para dar sentido ao mundo que a cerca.
            Por causa de seu caráter radical, a etnometodologia atraiu a hostilidade da sociologia estabelecida. Em 1968, com a publicação da recensão que J.S. Coleman consagrou na American Sociological Review aos Studies de Garfinkel, estourou a guerra entre uma posição mais clássica da sociologia e a proposta etnometodológica que não considera o senso comum como elemento residual, mas como algo imprescindível para a compreensão de como os atores interpretam a vida social.
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COULON, Alan. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.

Um comentário:

Glaubey disse...

Muito legal seu resumo! Vou indicar!