quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Novas Práticas Sociais na Educação: por um ensino de qualidade e pelo resgate do prazer de lecionar




Tive a oportunidade de participar, neste mês de janeiro, de um projeto que a Universidade Federal de Goiás está desenvolvendo em parceria com o MEC (Ministério da Educação e Cultura), cujo objetivo principal é a formação de educadores da rede pública do Estado de Goiás, visando o desenvolvimento de novas práticas sociais na educação. Passei dez dias em uma cidade do interior ministrando a disciplina Metodologia de Intervenção Social para cerca de 170 alunos divididos em quatro turmas. Confesso que não foi um trabalho fácil. Digo isso não por causa de extensa carga horária, mas, especialmente, por causa da falta de motivação estampada no rosto de muitas daquelas pessoas que ali estavam. Algumas delas me confessaram que faziam o curso porque sofreram certa coerção ou por razões absolutamente pragmáticas. Não as culpo, é realmente muito difícil manter a motivação correta diante do descaso que tem vitimado a educação brasileira, sobretudo, o ensino básico.
Além de todos os problemas sócio-culturais que afetam diretamente a escola, evidenciados particularmente pela crise de instituições tradicionais como religião, família e trabalho, existe ainda o problema da pressão internacional que o Brasil sofre para mostrar índices positivos que atestem que a sociedade brasileira está avançando no combate às desigualdades sociais. Nesse sentido, os números ganham uma importância primordial, afinal é uma vergonha que um país que está entre as principais economias do mundo tenha um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tão baixo. Daí, para obter resultados rápidos, melhor dar uma “maqueada” no problema trazendo e mantendo crianças nas escolas, nem que para isso seja necessário abrir mão da qualidade do ensino. Assim, o quadro diagnosticado pelos professores, para os quais ministrei, é a diminuição do analfabetismo absoluto e o aumento gradativo do analfabetismo funcional, ou seja, temos um número crescente de pessoas que conhecem o alfabeto, conseguem até juntar as letras, mas têm dificuldade para interpretar textos relativamente fáceis.
Meu esforço diante da situação com a qual me deparei foi procurar dar uma injeção de ânimo, enfatizando sempre, sem deixar de falar da responsabilidade que o poder público tem de cumprir as atribuições que são de sua competência, o papel do professor como agente de transformação. Não sem razão, fiz uma introdução na primeira aula denunciando alguns inimigos que teríamos que vencer para dar o primeiro passo rumo a uma mudança significativa. Alguns desses adversários são: o ceticismo, o comodismo e o utilitarismo. O ceticismo que nos impede de acreditar que o outro pode mudar, nesse caso, o outro seria o “mau” aluno; que nós mesmos podemos mudar e que a realidade na qual estamos inseridos pode mudar por meio de uma intervenção social. O comodismo que nos impede de sair da nossa zona de conforto e nos envolver com causas relevantes. E, enfim, o utilitarismo que faz com que continuemos a dar aulas tendo como único propósito a sobrevivência., ou seja, a docência deixa de ser encarada como vocação e passa a ser percebida apenas como meio de obter uma renda que, por sinal, é bem defasada
Durante as aulas percebi olhares, antes opacos, começando a brilhar. Obtive boas respostas de alguns ouvintes ali, no entanto, grande parte permaneceu apática, talvez fazendo contas para saber quanto tempo ainda falta para a aposentadoria. A sensação que senti vendo essa apatia fez com que eu me colocasse no lugar dessas pessoas. Quantas vezes elas mesmas não receberam a apatia, ou coisa pior, como resposta dos seus alunos? Consigo compreender porque elas desistem, mas prefiro focar naquelas que mantém a esperança. A luz é o que me atrai, portanto, é o brilho do olhar de alguns que ali estavam que me faz acreditar que esse projeto ainda renderá bons frutos.