sábado, 19 de dezembro de 2009

Etnografia, Estudo de caso e História de vida: métodos de pesquisa mais utilizados pelos interpretativistas



Dando continuidade ao tema dos métodos qualitativos nas ciências sociais, posto aqui um resumo sobre algumas das abordagens mais comuns no âmbito de uma concepção interpretativista, são elas: a etnografia, o estudo de caso e a história de vida.
Etnografia: Caracteriza-se pelo trabalho de campo. O pesquisador se infiltra, por um longo período de tempo, no grupo ou comunidade que deseja estudar e por meio de uma prática “artesanal, microscópica e detalhista” (Peirano, 1995, p. 57) coleta os dados. Para a coleta, ele pode usar, entre outros recursos, o caderno de campo, no qual vai descrever minuciosamente os aspectos sociais, possíveis de serem apreendidos por ele, dentro do ambiente investigado; pode, também, fazer entrevistas em profundidade com membros representativos daquele grupo; e, ainda, integrar-se ativamente na cultura local, a fim de facilitar sua compreensão sobre os motivos das ações sociais típicas daquele contexto social. A abordagem etnográfica parte da premissa de dar voz aos atores sociais.

O estudo de caso: Segundo Laville e Dionne (1999), trata-se do “estudo de um caso, vez de uma pessoa, mas também de um grupo, de uma comunidade, de um meio, ou então fará referência a um acontecimento especial” (p. 155). Segundo estes autores, o estudo de caso tem a importante vantagem de possibilitar um aprofundamento, já que o pesquisador não tem que se preocupar com restrições provenientes da comparação do caso com outros casos. Todos os recursos estarão concentrados no caso visado. No decorrer da pesquisa, o pesquisador estará mais livre para usar a imaginação e a criatividade, podendo, se necessário, fazer adaptações dos seus instrumentos, modificar sua abordagem para melhor captar elementos imprevistos. O cientista é motivado pela pretensão de que o caso estudado seja representativo daquela realidade social. Nesse sentido, a partir dos resultados ele pode, então, fazer generalizações. Esse método não está restrito ao campo das metodologias qualitativas e nem ao âmbito das ciências sociais.
História de vida: Também chamada de narrativa de vida, pode ser definida, segundo Laville e Dione (idem) como a narração, por uma pessoa, da experiência vivida no contexto do fenômeno social que interessa ao pesquisador. A narrativa autobiográfica deve acontecer com uma interferência mínima do estudioso que, por sua vez, é guiado pelo problema que motivou a pesquisa. Além disso, algumas hipóteses, circunscritas em uma dada problemática podem ser úteis para direcionar o trabalho de escolha de um ou mais participantes. Entretanto, Laville e Dione ressaltam que o papel desses elementos, ainda que seja de extrema relevância, deve ser discreto. No momento da narrativa, a prioridade é a perspectiva do autor-participante, portanto, deve-se evitar toda intervenção que possa desviá-lo da trama. Aos dados coletados com a história de vida podem se somar, como forma de complementação, dados de entrevista mais estruturada, cujas questões se ligam diretamente às preocupações do pesquisador. Como no estudo de caso, os resultados podem ser generalizados. Aliás, a história de vida pode também ser considerada um estudo de caso.

Os métodos acima apresentados não são, de modo algum, excludentes, ao contrário, são comumente combinados em pesquisas de cunho qualitativo. Diante do que foi colocado, podemos perceber que, de um modo geral, as mudanças, ainda em curso, que atingiram a forma de produção do conhecimento no contexto das ciências sociais, trouxeram benefícios relevantes. Dentre os quais se destacam: uma maior liberdade do pesquisador para escolher quais métodos atendem melhor as demandas do seu trabalho e uma gradativa mudança de postura, no sentido de que a ciência tem deixado de ser um fim em si mesma, tornando-se mais humanizada.

Referências Bibliográficas:
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Ed. UFMG, 1999.
MALINOWSKI, B. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1978.
PEIRANO, Mariza. A Favor da Etnografia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito que a humanização da ciência nos dias atuais já veio a se tornar um fato; apenas certos dogmas ainda insitem em nos perseguir o julgamento, gostei bastante ...

Abraços