terça-feira, 21 de julho de 2009

Da Esperança e das falsas esperanças



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Dentre todos os sentimentos que podemos cultivar, a esperança talvez seja o mais arriscado. Isso porque ter esperança significa alimentar expectativas de que algo que desejamos muito irá, mais cedo ou mais tarde, acontecer. Não há nada de errado nisso, ao contrário, é justamente esse sentimento que nos faz olhar para frente, que nos move, que não nos permite desistir. O problema é que, não raras vezes, podemos nos frustrar e é o modo como lidamos com nossas frustrações que determina se somos, de fato, indivíduos com competência para a vida. Digo isso porque acredito que a verdadeira esperança não sucumbe diante dos fracassos, decepções e toda sorte de contratempos que surgem em nossos caminhos. Falo de uma esperança “essencial”, que nos faz transcender e nos fortalece para que recomecemos sempre que necessário.
Não sou adepta desse “otimismo de auto-ajuda” tão em voga hoje em dia. Penso que autores desse tipo de literatura estão entre os maiores propagadores de falsas esperanças. As falsas esperanças são aquelas que nascem não de uma visão realista do mundo, mas da ilusão de que podemos alcançar um estado perene de bem-estar. Reconheço que esses livros que trazem “receitas” para obter sucesso, felicidade e satisfação constante, possam até ter o mérito de conseguir estimular atitudes benéficas diante de circunstâncias difíceis. Todavia, isso não é suficiente para se sobrepor ao efeito colateral que provocam. Acenar com a possibilidade de sentir-se bem o tempo todo traz como conseqüência a sensação constante de que “ eu devo não estar seguindo direito todos os preceitos, já que não consigo me sentir pleno e realizado como me foi prometido pelo expert vitorioso e sempre feliz que escreveu o livro.” Os consumidores de auto-ajuda estão sempre em busca de uma nova receita até que um dia, creio, eles criem coragem para ver o mundo como ele é de fato e, mesmo assim, continuar esperando e lutando para que coisas boas aconteçam.
Uma das mais interessantes abordagens sobre esperança que encontrei está no imperdível filme Um sonho de liberdade (The Shawshank Redemption). Dirigido por Frank Darabont, o roteiro apresenta a história de um bancário, AndyDufresne, que foi preso injustamente acusado de ter matado a esposa e seu amante. Seu melhor amigo na prisão é Red, um negro que está preso há mais de trinta anos. Red é o narrador da história e é sob sua perspectiva que vemos os fatos que mostram a tenacidade de Dufresne e a transformação  que a amizade com o bancário promove eu no modo como ele lida com a realidade que o cerca. A princípio, ele é o cara que, em decorrência de sucessivas frustrações, começou a ver a esperança como uma coisa ruim, perigosa. A postura que havia assumido era a de não esperar por coisa alguma.
Ao contrário de Red, Andy Dufresne percebe a esperança como algo bom e, mesmo tendo passado vinte anos na prisão, sofrendo abusos físicos, morais e emocionais, alimentou dia após dia o sonho de ser livre novamente. Perder a esperança significaria desistir da própria vida. Além de não desistir, o presidiário também não permite que seu melhor amigo desista. São nas palavras finais de Red , rumo ao lugar marcado para rever Dufresne, que aprendemos que para ir adiante é necessário confiar que lá encontraremos aquilo que buscamos: “Espero que Andy esteja lá. Espero conseguir atravessar a fronteira. Espero encontrar meu amigo e apertar a sua mão. Espero que o Pacífico seja tão azul quanto em meus sonhos. Espero...”