quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A eleição de Obama como evidência do processo de transformação cultural nos EUA.


Há algum tempo atrás, tive o privilégio de ler a biografia de Martin Luther King. Estava motivada pelo desejo de desvendar a questão do racismo que, para mim, sempre se apresentou como um enigma. Por mais que me esforçasse, não conseguia compreender como isso se processava na mentalidade das pessoas. Admito minha incompetência, não consegui relativizar a tal ponto de entender os sentimentos de um racista. Continuo pensando que é uma absoluta falta de racionalidade.
Os acontecimentos narrados no livro suscitaram-me uma profunda admiração pelo líder negro pacifista, mas também uma grande indignação com a sociedade estadunidense e um temor de que esse mundo fosse mesmo uma grande “M”. Lembrei-me de um filme que assisti, no Brasil recebeu o título de “A corrente do bem”, que conta a história de um garoto que leva à sério um trabalho de ciências sociais, no qual o professor pede aos alunos que façam algo para mudar o mundo. A cena emblemática, segundo minha concepção, é quando o menino pensa que todos os seus esforços foram fracassados e fala para o professor “Esse mundo é uma bosta mesmo!”. Pois foi essa a sensação que tive ao ver narrados, na biografia, os episódios de violência, tanto física quanto simbólica, que exprimiam todo ódio e intolerância dos brancos em relação aos negros nos Estados Unidos.
Agora, 53 anos depois que Rosa Parks deu início ao movimento de resistência negro, recusando-se a ficar em pé num ônibus para que um branco se sentasse, vemos de forma explícita os frutos da semente que fora plantada por ela e regada por King e seus seguidores. Um negro chegou à presidência dos Estados Unidos! À pouco tempo isso era inimaginável. Um país conservador, de maioria branca e que ainda alimenta, em grande medida, tendências racistas, elegeu um negro, filho de pai Queniano e que teve como padrasto um indonésio, para presidente.
Alguns dirão, não sem motivo, que os estadunidenses elegeram Barack Obama mais por rejeitarem Bush e sua plataforma de governo do que propriamente pelas qualidades políticas do candidato democrata. Votar no candidato republicano, John McCain, seria votar na continuidade, a maioria preferiu a ruptura. Talvez seja otimismo demais de minha parte, mas acredito que o resultado dessa eleição é a evidência de um processo de transformação cultural. Com o decorrer do tempo, veremos se esse prognóstico se confirma. Para o bem de todos, espero que sim. Então, quem sabe, possamos dizer com toda convicção que, afinal, esse mundo não é uma bosta tão grande assim, ou pelo menos, ele não é só bosta.